CAMPANHA MUNICIPAL TEM 28 CANDIDATOS MORTOS NO PAÍS



clementino_vereador.jpgclementino_vereador.jpg Nos últimos quatro meses, 28 candidatos das eleições 2016 foram assassinados em 17 estados brasileiros. O Rio Grande do Norte entra para essa lista com o homicídio registrado na segunda-feira passada, em Serrinha dos Pintos, cidade que fica a 367 quilômetros de Natal.
 
A vítima foi o vereador candidato à reeleição Manoel Clementino do Carmo (PMDB), de 56 anos de idade. Ele foi morto a tiros durante um evento político que acontecia no município na noite da segunda-feira.
Clementino, que era subtenente aposentado da Polícia Militar, foi socorrido ao hospital de Pau dos Ferros após ser atingido pelos disparos, porém não resistiu aos ferimentos.
Outras três pessoas foram atingidas pelos tiros durante o atentado. Uma delas morreu e as outras não correm risco de morte. O candidato participava de uma carreata quando foi surpreendido pelo homem que chegou atirando contra a multidão.
De acordo com a polícia, houve corre-corre e o evento foi disperso. O criminoso fugiu e não foi mais visto. Foram realizadas diligências para tentar encontrar o suspeito, entretanto ninguém foi preso ainda.
Manoel Clementino serviu por 30 anos a PM e em seguida assumiu o cargo no Poder Legislativo de Serrinha dos Pintos. A morte do vereador provocou, inclusive, o envio de uma nota por parte da Secretaria de Segurança e Defesa Social (Sesed).
O caso do vereador potiguar ilustra a situação que acontece em diferentes locais do Brasil. A morte de quase 30 políticos nos últimos quatro meses preocupa, inclusive, o ministro da Defesa.
“Preocupa e preocupa muitíssimo [a violência relacionada às eleições]. Nós não temos até aqui uma explicação. Vamos construí-la junto com a Justiça, a Polícia Federal, com a Justiça Eleitoral e com a área de inteligência. Vamos procurar e, se encontrarmos uma explicação, vamos comunicar e torná-la público”,declarou  Raul Jungmann à Agência Brasil.
Segundo ele, as Forças Armadas devem empregar mais de 25 mil militares para segurança e apoio logístico no primeiro turno das eleições municipais. O contingente das três forças vai atuar em 420 localidades de 15 estados definidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que fez a solicitação.
Jungmann informou que os militares também vão reforçar a segurança em Itumbiara, em Goiás, onde o candidato à prefeitura do município, José Gomes da Rocha, foi morto na quarta-feira, durante a campanha eleitoral.
Para o Rio Grande do Norte serão enviados 1.550 homens das forças armadas, que serão encaminhados para 87 diferentes cidades potiguares. O RN é o estado brasileiro que mais receberá militares no próximo domingo durante a eleição.
Para o ministro, a grave situação das contas públicas nos estados acabou intensificando a crise de segurança. “Eu acho, e isso é uma suposição, que dada a situação fiscal a que o Brasil chegou e isso repercutindo numa crise na segurança em alguns estados, o que nós estamos vendo é um reflexo na política de algo que, na prática, já está acontecendo. Evidentemente que existem reflexos em todas as áreas e isso chega à área da segurança”.
Jungmann também destacou que outra situação que “preocupa muitíssimo” ocorre em alguns estados onde existe “um processo perverso” em que milícias e traficantes têm poder político e indicam representantes ou eles próprios são eleitos.
Ele citou como exemplo o estado do Rio de Janeiro. “O Rio, infelizmente, é um desses exemplos, mas não é apenas o Rio. No Rio de Janeiro, talvez o que exista é um processo mais avançado. Este é um problema grave que estamos enfrentando e em breve pretendemos ter várias respostas para a área de segurança”, afirmou.
No que se refere ao homicídio do vereador Clementino, em Serrinha dos Pintos, o caso ainda está sendo apurado pela delegacia local. A polícia ainda não repassou investigações sobre possíveis suspeitos.
Crimes com motivações políticas são ainda mais numerosos
Um levantamento realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo aponta que ao menos 96 pessoas, entre prefeitos, secretários municipais, candidatos e militantes, foram executadas por motivações políticas entre janeiro e setembro deste ano. Os dados têm como base registros policiais, em sua maioria, além de documentos de fóruns, denúncias do Ministério Público e processos nos Tribunais de Justiça. 
Uma série de 13 assassinatos de pré-candidatos e candidatos a vereador e cabos eleitorais no Rio de Janeiro, neste ano, contribuiu para tornar 2016 o mais sangrento na política desde a Lei de Anistia, em 1979. 
O levantamento não inclui as três mortes ocorridas na quarta-feira, 28, na cidade goiana de Itumbiara. A polícia ainda investiga o motivo que levou o funcionário público Gilberto Ferreira do Amaral a matar o candidato a prefeito José Gomes da Rocha (PTB) e ferir o governador em exercício José Éliton (PSDB) durante uma carreata. Amaral e o policial Vanilson João Pereira morreram após o tiroteio. 
Entre os motivos para as mortes de políticos neste ano está o controle do dinheiro dos municípios. Foram mortos Cícero Lopes, de Maraã (AM), Gilmar Pinheiro, de Praia Norte (TO), e José Gomes, de Goianésia (PA). Com saída apenas pelo Rio Japurá, Maraã, a 630 quilômetros de Manaus, viveu dias de guerra civil em fevereiro, quando o prefeito do PROS, de 65 anos, foi alvejado com um tiro de espingarda nas costas, numa emboscada. O vice-prefeito Magno Moraes, 24 anos, do PT, que tinha divergência com Cícero, assumiu o poder. A família de Cícero o acusa pelo assassinato. 
A Polícia Civil, no entanto, indiciou quatro comerciantes que tinham dívida a receber da prefeitura. Destes, dois admitiram o crime: Lázaro e Anderson Moraes, primos de Magno.
A lista de políticos mortos neste ano inclui também candidato a vereador pelo PP do Rio e presidente da tradicional escola de samba Portela, Marcos Vieira de Souza, o Falcon, de 52 anos. Ele foi assassinado a tiros, no dia 26 de setembro, por dois homens que invadiram o seu comitê de campanha, em Madureira. A série de mortes de políticos no Estado nestas eleições é quase a mesma das disputas municipais de quatro anos atrás, quando 11 pessoas morreram.
A busca do poder por meio de crimes de mando ocorre também em cidades pacatas. É o caso de Luiziana, de sete mil habitantes, no Paraná, a 328 quilômetros de Curitiba, onde o secretário municipal de Fazenda, Lindolfo Angelo Cardoso, de 31 anos, foi morto dentro de casa e diante de um filho. 
De agosto de 1979 para cá, 1.269 pessoas morreram por motivações de disputas pelo poder político no País. Este número é fruto de um monitoramento dos homicídios na política feito pelo jornal O Estado de S. Paulo há três anos. Em 2013, o jornal publicou o caderno especial “Sangue Político” que mostrou as conexões entre os mandantes dos assassinatos e grupos políticos estaduais e nacionais.
Votos serão anulados
Os nomes dos candidatos assassinados no Rio de Janeiro na campanha eleitoral das eleições municipais podem aparecer nas urnas no dia da votação, neste domingo. Porém os votos para esses candidatos, se houver, serão anulados, explicou na quinta-feira a diretora-geral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), Adriana Brandão, à Agência Brasil.
“Se a urna já está preparada, é possível que apareça a figura do candidato que acaba de falecer e que os votos sejam computados. Mas os votos dados a candidatos falecidos serão nulos, pois o registro já foi anulado”, disse, ao informar que o prazo para a preparação das urnas encerrou no dia 27 deste mês.


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