Desde que se mudou para Natal, com o intuito realizar um doutorado, o biólogo paraense Leandro Alves da Silva estava intrigado com as fotos que o Sr. Abrahão, dono do kitnet alugado por ele, mandava. Eram imagens de uma espécie curiosa que aparecia com uma certa frequência no apartamento mas que, por azar, o biólogo nunca estava em casa para ver.
A paixão pelo tema, portanto, aumentava a curiosidade de visualizar o animal. Foi quando, no final de 2018, um grande encontro finalmente ocorreu. Quer dizer, não tão grande assim!
“Tive a felicidade de vê-la pela primeira vez. A pequena grande notável
Com cerca de 20 centímetros de comprimento, esta serpente é conhecida como cobra-da-terra ou cobra-cega, variando de acordo com a região. Diferente de outros anfíbios e répteis, que também ganham esse nome popular e não são cobras, esse caso é, de fato, de uma serpente com olhos muito reduzidos.
Serpente possui hábito fossorial e está adaptada a viver embaixo da terra
Além de ser uma das menores do mundo, esta cobra pertence à família dos menores vertebrados também. “Espécies de outros gêneros são ainda menores, como as do gênero Tetracheilostoma, que não ultrapassam 12 centímetros!”, relembra Leandro.
Atualmente no Brasil são conhecidas oito espécies diferentes do gênero encontrado, distribuídas por todas as regiões do país.
Apesar de comum, a Epictia borapeliotes se faz passar despercebida principalmente por viver grande parte do tempo enterrada e ocorrer apenas no Nordeste brasileiro. Leandro lidou ainda com outro complicador: “Tirar a foto foi um pequeno desafio, sobretudo porque ela não para um segundo! É uma missão de paciência”, desabafa.
A serpente é inofensiva: não possui dentição para inocular veneno e é muito pequena para causar qualquer efeito. Com uma dieta de pequenos invertebrados, como larvas de formigas e cupins, o biólogo alerta: “Matam apenas de fofura mesmo”.
Depois do registro, Leandro Alves liberou a espécie em uma praça, onde poderá continuar sua vida.
Espécie é conhecida também como cobra-da-terra ou cobra-cega
CARREIRA DO BIÓLOGO
A biologia e a herpetologia (estudo dos répteis e anfíbios) apareceram na vida de Leandro tão ocasionalmente quanto a própria serpente. O contato com a natureza, com o turismo e com as leituras sobre as espécies direcionaram o rapaz à carreira profissional.
Foi com tamanha naturalidade que a graduação se concretizou que Leandro não afirma ter escolhido a biologia. “Aconteceu na minha vida. O sentimento é que fui escolhido, e não o contrário”, descreve ele.
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