"Às vezes não concordo com determinadas escalações. Mas nunca me intrometi. fico calado e só observo. Cada treinador tem sua filosofia de trabalho. Eu nunca opinei em nada” Joca Roupeiro do ABC.
Chuteiras, camisas, bolas e água. Tudo preparado para dar tranquilidade ao trabalho de jogadores e comissão técnica do ABC Futebol Clube antes e depois de jogos e treinos. A atividade de roupeiro caiu no colo de João Carlos da Silva nos idos anos de 1970. Seu trabalho de formiguinha, invisível para a maioria, representa o passo inicial da conquista de jogos e troféus para o alvinegro potiguar.
Depois de 45 anos de serviços prestados, Joca, como é carinhosamente chamado, prepara a sua despedida do ABC. Se não houver reviravolta até o fim do ano, o roupeiro encerrará as suas atividades logo após a 38º rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. A hora do adeus não é fácil, mas se faz necessária. “Meu corpo já sente as dores da idade. Não tenho mais o pique de anos anteriores. Tenho que abrir espaço para novas pessoas. Já fiz muito pelo ABC e o ABC por mim”, afirma.
A rotina de Joca está entre as mais puxadas do elenco abecedista. Ele chega ao Frasqueirão às 6 horas da manhã e só volta para casa quando o último jogador alvinegro deixa as dependências do estádio, geralmente às 20h. Tudo isso para deixar tudo pronto para que no dia seguinte os atletas encontrem seus equipamentos de treinos perfeitamente organizados.
Passa tanto tempo com os atletas alvinegros que é tido como um xodó do elenco. Para conseguir entrevistá-lo, tivemos que nos “esconder” atrás das arquibancadas do Frasqueirão para não ser interrompidos com alguma brincadeira por algum membro da equipe. “É sempre assim. Eles brincam muito comigo. Quando vencemos o Brasileiro de 2010, por exemplo, os jogadores tiraram a minha roupa e me deram um banho de Gatorade no vestiário. Quase morri de frio”, lembra com bom humor.
Há quase meio século no alvinegro, João Carlos já vivenciou de tudo um pouco no clube. Viu de perto grandes jogadores, como Marinho Chagas e Alberi, alcançarem o ápice de suas careiras, fez parte do grupo vencedor de diversos títulos, mas também esteve junto ao ABC quando o time passou por um dos momentos mais difíceis de sua história: ter ficado sem divisão, em 2006.
Naquele ano, o alvinegro atravessou um péssimo momento e, em contra partida, viu o seu maior rival chegar à primeira divisão nacional.
A reviravolta, contudo, veio no ano seguinte. Na final do Campeonato Potiguar de 2007, o ABC derrotou o seu maior rival por 5 a 2, no recém inaugurado Frasqueirão, garantiu vaga na Série C daquele ano e assistiu de camarote o América fazer uma fraca campanha na Série A, terminado como lanterna e sendo rebaixado. “Com certeza aquele momento foi o mais difícil que vivi no ABC. O América chegava à Série A e nós estávamos sem série. Foi humilhante, mas demos a volta por cima e acabamos o ano em alta”, conta.
Joca não titubeia quando questionado sobre o seu momento mais feliz junto ao ABC. O título da Série C, conquistado em 2010, não sai da lembrança do roupeiro. Foi tanta festa que o vestiário alvinegro se transformou em uma grande churrascaria. “Trouxemos carne para o vestiário e fizemos o churrasco aqui mesmo. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Quis que aquele dia nunca acabasse”.
Todavia, Joca não está satisfeito. Seu desejo maior é, ao fim da Série B deste ano, se despedir do alvinegro potiguar deixando o time do seu coração na Série A. “Temos um bom grupo. As coisas ainda não estão saindo como nós queremos, mas a torcida pode ficar tranquila que vamos conseguir o acesso”, garante.
Depois de se aposentar ele pretende passar mais tempo com a família e curtir mais da vida. Como é exigido diariamente pelo alvinegro, quase não tem tempo para sair com amigos e se divertir. “Trabalhamos de domingo a domingo, praticamente. Minha rotina é bastante puxada. Quero tomar minha cervejinha em paz, assistir aos jogos do ABC e passar um tempo a mais em casa”.
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