MACABRO: Maquiadora funerária denuncia casos de necrofilia em IMLs no Brasil e é ameaçada nas redes

 


Corpo no IML: Maquiadora funerária denuncia casos de necrofilia em IMLs no Brasil e é ameaçada nas redes. Foto: Ilustração

Após denunciar à Polícia Federal e ao Ministério Público os abusos sexuais contra cadáveres femininos em Institutos Médicos Legais (IMLs) e funerárias no Brasil em 2022, Nina Maluf, maquiadora funerária, perita judicial e tanatopraxista começou a receber ameaças de morte nas redes sociais. Conhecido como “Festa no IML”, o caso voltou a viralizar nas últimas semanas. O perfil “Crimes Reais” voltou a expor o caso no X, antigo Twitter:

Em 2020, ela denunciou ao Ministério Público e à Polícia Federal membros e administradores de grupos no Facebook em que a necrofilia era não somente incentivada, como também praticada por funcionários de funerárias e dos IMLs de todo o Brasil. O grupo se chamava “Festa no IML”.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

Três meses após denunciar às autoridades competentes os abusos sexuais dos cadáveres de homens e mulheres, especialmente de mulheres, Nina Maluf sofreu ameaças de morte. Ela, em consonância com seu companheiro, Vinícius Cunha, deu notoriedade ao caso.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

O nome veio de um dos grupos do Facebook, onde Nina adentrou, colheu provas e saiu. Nestes grupos, eram divulgados conteúdos pornográficos com os corpos, principalmente de mulheres mortas.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

Segundo Nina, os registros são de fato em funerárias e IMLs. “A mulher é abusada até na morte”, disse. Nina organizou um grupo de pessoas para fazer as denúncias, mas quando um grupo era derrubado, vários outros apareciam no lugar.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

Segundo ela, um dos pontos observados é a íntima relação dessas atitudes necrófilas com o consumo de pornografia. Percebeu que a quantidade de apreço por esse tipo de conteúdo em seu local de trabalho era exorbitante, principalmente entre os homens, que são a maioria.

Relata ainda que, quando jovens morriam, esses homens saíam correndo para olhar, pois o interesse por meninas de 12, 13, 14 anos e mulheres bonitas era enorme. Destacou que esse comportamento não era típico de todos os funcionários, embora a quantidade de envolvidos fosse grande.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

Relembrou o caso do falecimento de uma lindíssima mulher e, quando o marido desta referida mulher viu que quem trataria dela era Nina, disse: “Ainda bem que é uma mulher que vai preparar”, pois ele já estava ouvindo piadas no IML.

Nina acredita que o transtorno é escalável, começando com pornografia, ménages, coprofagia (ingerir fezes), vídeos violentos, gore, em certo momento, a pessoa só liberaria dopamina vendo alguém sendo assassinado e, por último, precisaria da morte para a prática dos atos sexuais.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

Dias após a denúncia de Nina se tornar pública, um perfil no Facebook, identificado como sendo do criador do grupo Festa no IML, afirmou que o conteúdo era de humor e que nenhuma imagem era real, mas haviam fotos de jovens mortas em situações como acidentes de carro e suicídios.

O autor do post comemorava que elas iriam parar no IML. Contudo, este se pronunciou e disse “Qualquer um pode dizer que é médico, legista, ou o que for. É tudo fake news”. Após a imprensa dar publicidade ao caso, o grupo foi retirado do ar. Nina contesta essas afirmações.

“Piadas juvenis sobre esse assunto abrem margem para uma visão deturpada de uma realidade que não deveria existir, mas existe. Esse tipo de vídeo e foto tem milhões de views e comentários. Se a Polícia Federal quisesse, poderia ir atrás deles. É um tapa na nossa cara”, lamenta.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

A necrofilia, uso de cadáver como objeto sexual, é considerada pela medicina como uma parafilia. O termo é usado para definir cada um dos transtornos que se caracterizam pela preferência ou obsessão por práticas sexuais socialmente não aceitas.

Certo dia, Nina ouviu homens falando sobre uma menina de 24 anos que tinha se suicidado na empresa onde trabalhava. “Toda depilada”, “Nossa, que peitão”, “Baita de uma gostosa”. Neste dia ela se irritou e retirou todos da sala, ficando sozinha com o corpo para o preparo, disse.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

Nina dá aula para os novos profissionais e diz que nunca viu tanta procura por cursos de tanatopraxia quanto nos últimos anos, o que coincidentemente está em sinergia com a popularização e maior distribuição de conteúdo pornográfico violento.

Ela relatou: “Você vê muitas pessoas ali nitidamente mal-intencionadas, querendo realizar um desejo íntimo e pessoal”. A profissional afirma que é muito difícil reeducar quem está nesse ramo há muito tempo e encara com tanta naturalidade a questão da necrofilia.

Postagem no grupo “Festa do IML”. Foto: Reprodução

Vanderley dos Santos Silva, de 52 anos, era um maqueiro que foi exonerado do serviço público em Manaus após ser flagrado abusando de um cadáver feminino que aguardava exame, em 24 de novembro de 2019. Ele compartilhava conteúdos nos grupos que foram denunciados por Nina.

Veículos do IML. Foto: Divulgação

O fato ocorreu na noite em que o time do Flamengo foi campeão da Copa Libertadores da América. Um perito criminal, que estava de plantão, foi à sala de necropsia coletar dados sobre um cadáver e encontrou Vanderley sobre o corpo da mulher.

Parte da materia sobre necrofilia. Foto: Divulgação

Vanderley e outro colega haviam deixado o plantão para assistir ao jogo e voltaram bêbados, momento em que o flagrante aconteceu. O servidor foi demitido e após o ocorrido, câmeras para monitoramento interno foram instaladas.

Uma funcionária do IML de Manaus, que não quis ser identificada, relatou que o crime chocou os colegas e que nunca havia tido conhecimento de outros casos semelhantes. “Foi no dia do meu plantão. Ficou todo mundo surpreso. Pelo que sei, ele está solto, mas nunca mais foi visto”.

Um mês após o caso ser noticiado em todo o Brasil, em dezembro de 2019, o diretor do Departamento de Polícia Técnico e Científica informou que seriam instaladas câmeras na sala de necropsia do IML. Segundo funcionários, a promessa foi cumprida e as câmeras estão funcionando.

Relatos de necrofilia em IMLs provocam desconforto entre os profissionais da área. “Normalmente, são denúncias que vêm acompanhadas de provas. É quase impossível desacreditar”, declara a perita criminal Gisele Barreto, que há uma década exerce essa função em Manaus.

Crimes assim não são raros e costumam não ter conclusão, como o de 10 de novembro de 2019, em Gravataí (RS), policiais descobriram uma sepultura aberta no Cemitério Municipal, e, a poucos metros dali, o corpo de uma mulher de 49 anos, com evidências de abuso.

Tumulo violado. Foto: Divulgação

Ela foi removida do túmulo e deixada em um matagal após o crime. Sua calcinha, juntamente com pedaços do vestido, estavam no caminho que levava ao local. O incidente de necrofilia foi registrado na 1ª Delegacia da cidade. Um ano depois, o culpado nunca foi encontrado.

Tumulo violado. Foto: Divulgação

“Colhemos material genético que estava no corpo da vítima para perícia, cruzamos as amostras com a de seis pessoas suspeitas e deu negativo. Jogamos a amostra no banco de perfil genético e estamos aguardando que coincida com algum perfil”, afirmou o delegado responsável.

No Brasil, não existe o crime de necrofilia, contudo, o artigo 212 do Código Penal tipifica o crime de “Vilipêndio a cadáver” que tem como pena a detenção de 1 a 3 anos e multa.

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Artigo 212 do Código Penal que tipifica o crime de “Vilipêndio a cadáver”. Foto: Reprodução

DCM

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