ACABOU O MIMIMI, CHEGOU A BALA DE PRATA: Bolsonaro e os áudios do GOLPE


O ex-presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução

Por Miguel do Rosário, em O Cafezinho

Agora acabou!

Os áudios revelados ontem à noite, no Fantástico, enterram qualquer mimimi, qualquer narrativa chorosa dos bolsonaristas, tentando tratar a devastadora denúncia da PGR contra Bolsonaro e comparsas como “perseguição política”.

Oficiais de alta patente, com cargos de comando, indicados por Jair Bolsonaro (direta ou indiretamente) para cargos estratégicos de comando, e ideologica e politicamente muito próximos ao presidente, falavam abertamente em levar manifestantes para Esplanada, anular eleições e dar um golpe de Estado.

Alguns áudios deixam claro, a propósito, que Jair Bolsonaro era o mais radical de todos, pois estava escrevendo e assinando “decretos”, e esperava apenas que todos os comandantes militares fossem convencidos. Como não conseguiu convencer alguns nomes essenciais para levar adiante seu projeto golpista, teve que segurar, contra sua vontade, a decisão final.

Mas fizeram de tudo. Chegaram muito perto. Houve a tentativa de golpe. Houve o crime. E precisam pagar caro por isso!

Assista ao vídeo no link abaixo, depois leia a transcrição que fizemos.

Transcrição da reportagem acima:

Âncoras do Fantástico: Terça-feira, a Procuradoria-Geral da República denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas pela tentativa de golpe de Estado em 2022. A PGR afirmou que Bolsonaro era o líder da organização que pretendia instaurar uma ditadura no Brasil. O inquérito que levou à denúncia incluiu a triagem de milhões de mensagens de áudio e vídeo coletadas nos celulares de integrantes do núcleo golpista.

A análise desse material extenso só foi possível graças a um programa desenvolvido para a Polícia Federal.

“A gente não sai das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair. Ou então eles vão continuar dominando a gente.” 

Áudio enviado pelo tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, lotado no comando de Operações Terrestres do Exército (COTER), em Brasília.

“O povo está nas ruas pedindo para que haja uma outra eleição de forma que possa ser cobrado de uma forma mais clara. Pô, meu velho. Só quem tem quatro estrelas no homem não está vendo isso?”

Áudio enviado pelo interlocutor desconhecido ao tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida.

“Eu acho que o pessoal poderia fazer essa descida aí, né? E atravancando mesmo, porque, porra, massa humana chegando lá, não tem PM que segura. Atropela a grade e vai invadir, depois não tira mais, né?” 

Áudio do tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, lotado no comando de Operações Terrestres do Exército (COTER).

“Preto, o decreto é real. Foi despachado ontem com o presidente.”

Áudio enviado pelo general Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência do governo de Jair Bolsonaro.

“Está com medo de ficar para a história de dizer que fomentou um golpe? É a hora da gente, cara.”

Áudio enviado pelo interlocutor desconhecido ao tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida.

Os arquivos, extraídos de celulares e computadores a partir de apreensões e quebras de sigilo, mostram conversas entre envolvidos na tentativa de golpe de Estado e, segundo as investigações, revelam a participação de militares e civis no plano de tentar pôr fim à democracia brasileira.

Um dos áudios foi enviado pelo tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, que na época estava no Comando de Operações Terrestres do Exército, em Brasília:

“Se tu tiver alguma possibilidade de influenciar alguém dos movimentos, eu estou tentando plantar isso nas redes onde eles estão. Estou participando de vários grupos civis.”

Militares em postos de comando incitavam a participação popular e discutiam como usar os manifestantes em frente aos quartéis como massa de manobra para pressionar por uma intervenção.

“Não adianta protestar na frente do QG do Exército. Em que Congresso e as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum poder? Porque assim, todo mundo quer Forças Armadas.”

“Porque era um mecanismo de pressão chamado arma, né? Para apaziguar a gente resolve. É destituir, invalidar a eleição, colocar voto impresso, fazer uma nova eleição com ou sem Bolsonaro.”

Áudios do tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, lotado no comando de Operações Terrestres do Exército (COTER). 

Militares de alta patente mantinham o canal aberto e contato direto com manifestantes:

“Bom dia, general, tudo bem? Eu estou precisando de um apoio aqui, que a gente comprou uma tenda e o pessoal não está deixando ela entrar. Pra trocar a polícia do Exército daqui do QG, eu preciso de um apoio pra liberação.”

Áudio enviado pelo manifestante Rodrigo Yassuo Faria Ikezili para o general Mario Fernandes.

Em outro áudio, um caminhoneiro questiona o general Mário Fernandes sobre até quando deveriam permanecer em frente aos quartéis:

“Eu queria ver pro senhor aí qual que é a perspectiva. Até quando vocês querem que a gente fique aqui? General, veio com o presidente aí. Eu não saio daqui, quero ser o último a sair. Somos um soldado.”

Quando os militares não tinham autoridade para resolver, apelavam para que os pedidos para proteger os manifestantes chegassem até o então presidente Jair Bolsonaro.

“Parece que existe um mandado de busca e apreensão do TSE, né? Ou do Supremo? Em relação aos caminhões que estão lá, já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Se o presidente pudesse dar um input ali pelo Ministério da Justiça pra segurar a PF…”

“Eu tô tentando agir diretamente junto às forças, né? Poxa, se tu pudesse pedir pro presidente ou pro gabinete do presidente atuar.”

Transcrição do áudio do General Mario Fernandes. Reprodução

“Bom, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG. Se eu puder servir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson, segurar a PF, porra, esse cumprimento de ordem, ou com o comandante do Exército pra gente segurar, pô, proteger esses caras ali.”

Áudios enviados pelo general Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência do governo de Jair Bolsonaro.

Para a Polícia Federal, os áudios mostram que a estratégia do grupo era manter as manifestações nas ruas e a contestação das urnas eletrônicas.

“A gente está recebendo cara de TI, hacker. Eu não bebo cerveja, mas depois eu te conto as coisas que a gente já fez aqui, né? A gente tem cara infiltrado em quanto é lugar, monitorando e passando para a gente as informações.”

“Refutando ou ajudando a chegar, né, digamos assim. Matemáticos, estatísticos, PhD. Aquelas denúncias sigilosas.”

“Vai encontrar o cara no mercadinho, vai encontrar o cara lá na garagem, o cara passa um pendrive. Tem de tudo, cara. Mas ninguém ainda chegou com uma coisa que consiga abrir uma investigação.”

Áudio enviado pelo tenente-coronel Mauro Cid.

Mauro Cid, então ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, encaminhou para o tenente-coronel Sérgio Cavalieri um áudio de um hacker do interior de São Paulo sobre as urnas eletrônicas: 

“Logo que saíram os arquivos do TSE, eu vou pegar esses arquivos aí para ver o que dá para fazer e vou buscar agora qual que é a inconsistência desse negócio aí? Por que que está essa votação aí? Mas a gente teria que encontrar alguém lá de cima, né? Do governo, principalmente. Por coincidência, uma está na mesma igreja da Damares, da ministra. Aí a Damares escutou e passou um contato de uma assessora do Bolsonaro. De alguma forma, chamaram a área pessoal da ABIN, da Agência Internacional?”

O suposto hacker afirma que chegou a receber uma visita dos agentes da ABIN e admitiu que eles não encontraram nada nas supostas provas apresentadas por ele:

“Bom, esses caras da ABIN vieram aqui, ficaram dois ou três dias. Aí, não é desmerecendo os caras. Estudaram para entrar num concurso. Passaram no concurso, mas tecnicamente são fracos demais.”

A Polícia Federal apreendeu 1.200 equipamentos eletrônicos com os envolvidos na tentativa de golpe de Estado e conseguiu extrair desses aparelhos milhares de mensagens de áudio e vídeo. Se uma pessoa tivesse que ouvir tudo, levaria anos. Por isso, os peritos usaram um programa de computador desenvolvido no Instituto Nacional de Criminalística, capaz de transcrever 25 minutos de áudio por segundo.

Os peritos federais elaboraram 1.214 laudos, que, segundo a investigação, revelam as vozes do golpe.

Para os investigadores, os áudios mostram que integrantes do alto escalão do governo Bolsonaro também agiram para pressionar os comandantes militares a aderirem à ruptura institucional.

“Força, kid preto. Algumas fontes sinalizaram que o comandante da força foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar a ordem. Se o senhor tá com o presidente agora e ouvir a tempo, blinda ele contra qualquer desestímulo. Isso é importante.”

Áudio enviado pelo general Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência do governo de Jair Bolsonaro.

Nesse áudio, o coronel George RobertoOliveira Lisboa, que na época era assessor especial no gabinete da Secretaria-Geral da Presidência, faz um desabafo:

“Agora está ficando muito claro que o alto comando – e não é o Exército, é o alto comando do Exército – está se fechando em copas. Talvez com a maioria contra a decisão do presidente. Mas pensando, em primeiro lugar, na instituição, no próprio Exército, quando deveria estar pensando, em primeiro lugar, no Brasil. Eu sei o quanto o senhor está comprometido com essas ações, e o risco que nós estamos correndo, participando dessa frente. Um grande abraço, general.”

General Mauro Cid informa aos envolvidos que o presidente Bolsonaro tinha editado a minuta do chamado decreto golpista para ganhar apoio dos militares. O documento autorizaria o cancelamento da eleição e daria sustentação jurídica ao golpe:

“Ele entende as consequências do que pode acontecer hoje. Ele mexeu naquele decreto. Ele reduziu bastante, fez algo muito mais direto, objetivo, curto e limitado.”

Mas a demora do presidente mexe com os ânimos dos envolvidos:

“Pô, nós temos já passagens dos comandos de força. E aí, pô, já vamos passar o comando para aqueles que estão sendo indicados para o eventual governo do presidiário. E aí tudo fica mais difícil, cara, para qualquer ação.”

Áudio enviado pelo general Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência do governo de Jair Bolsonaro.

“Eu só espero que o silêncio que esteja acontecendo seja que para que passa a ser alguma coisa, porque se realmente não acontecer nada, a gente vai cair num descrédito total.” 

Áudio enviado pelo interlocutor desconhecido ao tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida.

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