
O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, disse em entrevista à BBC News Brasil que Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado, é página virada para o presidente Donald Trump, mas as sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), baseadas na Lei Magnitsky, devem ser mantidas.
(…) O senhor acha que os pedidos de Trump pela anulação do julgamento de Bolsonaro foram retirados da mesa?
Sim, foram — mas pelas ações das instituições brasileiras. Acho que Trump entendeu que sua tentativa de intervir em processos criminais no Brasil e de interferir em um processo eleitoral no Brasil não iria prosperar.
Mas Trump insistiu nesse tema por várias semanas. Como essa questão perdeu relevância tão rápido?
Acho que perdeu relevância principalmente porque o Brasil deixou muito claro que não iria ceder. E a instituição brasileira em questão — o Supremo Tribunal Federal — deixou muito claro que iria continuar com a acusação e manter a proibição de Bolsonaro concorrer nas próximas eleições. Uma vez que isso ficou evidente, o que os Estados Unidos poderiam fazer?
Ao mesmo tempo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) continua sendo recebido por autoridades do governo americano e afirmando que as coisas estão indo bem para o lado dele. Como analisar essas duas realidades?
Há algumas maneiras de ver isso. Primeiro, Trump não vai abandonar Bolsonaro. Ele o considera um amigo com visões políticas semelhantes. Mas é interessante notar que, em todas as comunicações com Lula, Bolsonaro não é mencionado. E não é mencionado porque Trump sabe que sua tentativa de proteger Bolsonaro da prisão e garantir que ele pudesse disputar eleições fracassou. (…)
Mas a tentativa de Trump de influenciar o julgamento de Bolsonaro é página virada?
Sim. Por que ele vai fracassar de novo quando já fracassou uma vez? Trump é astuto nesse ponto. Ele sabe quando não pode avançar em uma frente e procura outra.

O senhor acha que Trump está buscando formas de recuar nas tarifas?
Estou quase certo disso. Acho que é nessa área que teremos novidades. Mas ficaria muito surpreso se houvesse algum avanço sobre as sanções do tipo Magnitsky ou as revogações de vistos.
As sanções aos ministros do STF serão mantidas?
Vamos ver, pode ser que encontrem uma saída, espero que sim. Mas acho que a principal preocupação no momento é o impacto econômico das tarifas.
Quando o senhor acha que as tarifas podem ser retiradas?
Depende do ritmo das negociações. E, se não forem retiradas, vão ser reduzidas drasticamente ou vários produtos ficarão isentos. (…)
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