A derrubada do presidente João Goulart, com um golpe militar no dia 31 de março de 1964, faria o Brasil mergulhar em 21 longos anos de ditadura militar e num cruel sistema repressor. O militarismo e seus “anos de chumbo” (período mais repressor da ditadura, de 1968 a 1974), seriam driblados pelos jornais brasileiros, que a fim de tentar manter a informação para seus leitores, se utilizaram de notas indiretas e outras estratégias editoriais criativas, porém cuidadosas perante a censura.
Na edição do domingo (29), portanto a dois dias do golpe, o jornal demonstrava preocupação com o delicado momento do País e publicava o editorial O caminho da concórdia, discutindo a gravidade da situação e o desejo do povo brasileiro “por paz, justiça social e estabilidade, mesmo diante de problemas como a inflação e a violência política”.
A TN fez edições marcadas por um equilíbrio delicado entre as limitações impostas pela censura e a necessidade de registrar aspectos da realidade local — inclusive os episódios de resistência potiguar ao regime.
No dia seguinte ao golpe, a TN circulou estampando em suas páginas a tensa situação da política brasileira. Relata as reações e manifestações, além das prisões e movimentações militares por todo o País. Para tentar conter a agitação social, o governo decretou uma série de feriados bancários.
Os destaques do dia foram o deslocamento de tropas do Exército para garantir a ordem a qualquer preço, soldados da PM invadindo uma cadeia considerada “comunista”, aprisionando cidadãos “suspeitos” e vários grupos políticos articulando o impedimento do presidente João Goulart.
Em Natal, os jornalistas da redação da TN se debruçaram sobre a repercussão no RN e o jornal, com o auxílio das agências de notícias, informava os potiguares sobre o panorama nacional, como o deslocamento de tropas para garantir a ordem e conter rebeliões militares em MG; o envio de aviões da FAB para SP, MG, RS e região Nordeste para reforçar o controle militar,.
A edição de 4 de abril revelava a escolha do general Castelo Branco para disputar a presidência e a ida do presidente deposto, João Goulart, para Montevidéu.
A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, no dia 7 de abril, era uma tentativa de enfrentamento ao comunismo. Entre as várias intervenções militares, a fim de controlar possíveis influências comunistas. Era o clima do País destacado pelo jornal.
Estilo próprio
Ao preço inicial de 0,80 centavos de cruzeiros, em 1950, o jornal tinha em seus já famosos classificados a movimentação do mercado imobiliário da capital com o anúncio de sobrados à venda. Em relação às eleições (Presidência, Senado, Câmara e Assembleias Legislativas), a TN era marcada pelo show de cobertura, que virou sua marca registrada.
Além da equipe própria de jornalismo e colaboradores, o jornal contava com serviços das agências de notícias como a UP (United Press), entre outras que transmitiam as notícias nacionais e internacionais por telex, através de teletipos. Nas coleções do arquivo físico do jornal é possível pesquisar a partir da edição nº 76, um sábado, 1º de julho. As primeiras 75 edições infelizmente não foi possível preservar.
Aluízio Alves contou com a colaboração de uma equipe enxuta, formada por Odorico Ferreira de Souza – primeiro redator‑chefe, Rivaldo Pinheiro, Noel Dantas, Rômulo Chaves Wanderley,Murilo Melo Filho, Waldemar Araújo. Outras figuras relevantes na década de 1950 foram dois irmãos do fundador: José Gobat Alves (direção financeira e administrativa) e o jornalista Agnelo Alves, que permaneceu longos anos colaborando com o jornal.
Aluízio não tinha capital financeiro e recebeu apoio do ex-governador Juvenal Lamartine, Dix-huit Rosado e José Xavier da Cunha, além de subscrições populares e de pequenos empresários e comerciantes do RN.
Num dos seus primeiros editoriais a TN deixava claro: “não será uma opinião que não opina”. Em 1950, sob a manchete: “Igreja condena candidatura de Café Filho”, a TN noticiou o manifesto assinado pelo cardeal dom Jaime Câmara, que afirmava que “a igreja sempre condenará golpes e que o golpe, de 1937, também conhecido como Estado Novo, era o responsável pelas desgraças nacionais e a crise insuperável do país e que por isso a igreja proibiu os católicos de sufragar o nome do progressista”.
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