
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress
Ao abrir uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos na avenida Paulista e gritar a plenos pulmões o nome de Donald Trump, responsável pelo fechamento de postos de trabalho e de empresas através de seu tarifaço, bolsonaristas mostram que seu patriotismo é uma piada. E de mau gosto, pois hoje, 7 de setembro, completa-se 203 anos da independência do Brasil.
O bandeirão acabou sendo um presente do bolsonarismo-raiz para Lula, que vem se esforçando em apontar que os líderes do grupo atuam como traidores da pátria por incitar os EUA a aplicarem sanções contra o Brasil. Trump exige, para começar a discutir a revisão do tarifaço de 50% sobre nossos produtos, que o STF interrompa o julgamento de Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado. Ou que o Congresso Nacional aprove uma anistia.
Alexandre de Moraes não se assustou quando Donald Trump empurrou a lei Magnitsky para cima dele, usando contra a Suprema Corte de um país democrático um instrumento duro criado para punir assassinos e cleptocratas de ditaduras. Já o grupo que se autointitula patriota enquanto se cobre com a bandeira de outro país teve um orgasmo nas redes com a ação do governo dos EUA. Para eles, a esperada sanção, costurada pelo traidor Eduardo Bolsonaro, funcionou como uma espécie de levanta-defunto.
As sanções financeiras previstas pela lei norte-americana não trouxeram impacto sobre o julgamento de Jair Bolsonaro e seus cúmplices por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada no STF. O ex-presidente será responsabilizado nesta semana que começa e terá sua prisão decretada até o final do ano. Isso se não quebrar a tornozeleira, der um olé na polícia e fugir para alguma embaixada antes.
Tudo isso tem funcionado como estimulante a uma extrema direita que se sentia impotente diante da iminente condenação de seu líder. Não à toa, os atos realizados na orla de Copacabana, no Rio, e na avenida Paulista, em São Paulo, foram maiores do que os últimos. Não tão grandes quantos aqueles de setembro de 2022 ou fevereiro de 2024, respectivamente, mas tiraram gente de casa.

Em conversa por áudio com o ex-presidente revelada pela Polícia Federal, o pastor Silas Malafaia desabafou: “Desculpa, presidente. Esse seu filho Eduardo é um babaca inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista, e ao mesmo tempo te ferrando”, disse. O organizador do ato de hoje na Paulista foi preciso.
Neste 7 de setembro, Lula usou toda a pataquada patriótica no desfile que conduziu em Brasília. Pessoas de amarelo-CBF e crianças com bandeirinhas. Além dos bonés azuis “O Brasil é dos Brasileiros” e “Brasil Soberano”, um contraponto ao boné vermelho “Fazer a América Grande Novamente”, parte do movimento “America First”, de Trump, que foi gostosamente vestido por Tarcísio de Freitas e outros bolsonaristas.
Desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o verde e, principalmente, o amarelo foram sequestrados pela direita radical. O governo Lula vinha abusando dessas cores em propagandas, desfiles e decorações para mostrar que elas não pertencem a um grupo, mas ao país. Mas o processo de desbolsonarização da caixinha de lápis de cor vinha se mostrando difícil. Até que Trump deu um empurrãozinho com suas sanções.
Como disse aqui um rosário de vezes, o que vai reeleger ou não Lula é o preço do arroz e do feijão, bem como da picanha e da cerveja, em outubro de 2026. Apontar que os adversários são cobaia de gringo ajuda, mas não resolve. Mas, como bem disse Mafalaia, Trump e o clã Bolsonaro entregaram um presente para Lula.
Originalmente publicado no UOL
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